ANNETTE – 2021

Poucos filmes são tão bizarros e originais quanto o musical do cineasta francês Leos Carax que estreou sob aplausos no Festival de Cannes deste ano. Annette, que até o momento mantém o mesmo título em português, é a estreia de Carax em língua inglesa e conta com a colaboração do duo estadunidense Sparks, que escreve as músicas e assina o roteiro com o diretor francês. O filme é protagonizado por Adam Driver e Marion Cotillard nos papéis de Henry e Ann respectivamente, um famoso casal apaixonado: ele um irreverente comediante de standups e ela uma renomada cantora de ópera. Com a gravidez de Ann e a chegada da primeira filha do casal, Annette (em alguns momentos interpretada pela adorável e talentosa Devyn McDowell), suas vidas mudam repentinamente. Henry não é mais quem parecia ser e o futuro do relacionamento desse badalado casal parece incerto, até mesmo porque Annette, aos poucos, mostra que é uma criança como nenhuma outra.

Musicais sempre evocam um realismo fantástico, afinal, por mais que as histórias contadas sejam verossímeis, em algum momento veremos uma ou mais pessoas cantando um música em contextos que nunca cantaríamos na vida real, ou ainda entoando diálogos de forma melódica, bem diferente da realidade. Então, por si só, Annette já nos leva para um mundo de fantasia. Mas além desse aspecto óbvio presente em todos os musicais, o filme também traz outros elementos, como cenários e o uso de marionetes, que nos transportam para um universo estranho e até um pouco assustador. O filme é original nesse sentido, não se pode negar, mas a história toma caminhos tortuosos desnecessários e oferece um tom muito desconfortável que não nos deixa em paz durante todas as longas duas horas e vinte minutos de duração do filme.

E eu diria que Henry, o personagem de Adam Driver, seja o culpado por esse desconforto. O filme nos apresenta Henry como um ótimo comediante, muito embora não o vejamos fazer uma única piada em todo o filme (pelo contrário, ele é super sem graça e deprimente), e demora muito para nos apresentar a ambiguidade moral da personagem, que é a chave da trama. Há muitas cenas musicais desnecessárias que não contribuem para o desenvolvimento da narrativa, e ao mesmo tempo não conhecemos a fundo as motivações das personagens. Tudo isso num filme que é bastante longo, mas que não aproveita bem seu tempo. E não posso deixar de mencionar o exagero de diálogos cantados, principalmente por Driver, que não se mostra o mais exímio dos cantores, talvez propositalmente, mas ainda assim, irritantemente. A surpresa positiva é Devyn McDowell, como a pequena Annette, que arrasa numa das sequências finais da obra.

Nota 4!

No momento, Annette ainda não está disponível nas plataformas oficiais de streaming ou de aluguel do Brasil.


Veja também:

Deixe um comentário

Site criado com WordPress.com.

Acima ↑