
A mais nova série nacional original da Amazon Prime Video, Manhãs de Setembro é um drama LGBTQ+ cheio de emoção e música. Criada por Josefina Trotta, Manhãs de Setembro é dirigida por Luís Pinheiro e Dainara Toffoli. Ela conta a história de Cassandra (interpretada pela cantora e atriz Liniker), uma mulher trans que trabalha em São Paulo como entregadora de aplicativo e que finalmente chegou num momento de independência, no qual conseguiu se estabilizar financeiramente e alugar uma quitinete só sua. Além de motogirl, Cassandra é fã da cantora Vanusa, que é sua inspiração, e também canta num bar por algumas noites na semana. Ela também está num relacionamento com Ivaldo (vivido pelo ótimo Thomas Aquino), um garçom que é casado com outra mulher, algo que a princípio não parece incomodar Cassandra. Mas essa recente estabilidade é bruscamente tirada dos trilhos pelo aparecimento de Leide (interpretada por uma sempre fabulosa Karine Teles) e um menino de 10 anos, Gersinho (vivido por um excelente Gustavo Coelho), que Leide afirma ser fruto de um relação dela com Cassandra, antes dela ter feito a sua transição.
Essa ótima série de apenas cinco episódios é uma obra obrigatória para os fãs de dramas e de boas histórias. É uma das primeiras e únicas séries de ficção brasileiras cuja protagonista é uma mulher trans negra. Além disso, Cassandra é retratada como uma mulher que conseguiu alcançar vários dos seus objetivos de vida: ser independente, ter sua fonte de renda e conseguir morar sozinha. Assim, ela ajuda a desconstruir a imagem de que mulheres trans e travestis não conseguem se inserir na sociedade. Mas não é por isso que Manhãs de Setembro esconde o preconceito, a transfobia e as miniagressões que pessoas trans e LGBTQ+ em geral sofrem diariamente. Mas a história de Cassandra vai além, fala de família e abandono numa trama que não gira somente em torno da transexualidade. A descoberta da existência de Gersinho, um filho que ela nunca soube que existia, vai balançar suas estruturas a fazê-la rever suas prioridades de vida. Dessa forma, a série acompanha a vida de Cassandra para mostrar como sua rotina precisa mudar, apesar de muita resistência dela mesma, com a chegada de Gersinho e Leide.
E o dia a dia de Cassandra é bastante realista, vagando pela cidade de São Paulo, de forma objetiva e honesta. Esse sentimento também é trazido pela fotografia da série, que é muito bem filmada e foca na frieza da metrópole paulistana. Acompanhamos tando as longas andanças da protagonista que percebemos ótimos detalhas nas relações de Cassandra com todos ao seu redor, por mais que isso sacrifique um aprofundamento na história da personagem, da qual sabemos menos do que eu gostaria. Nesse sentido, eu diria que a curta duração de Manhãs de Setembro – apenas cinco episódios de cerca de 30 minutos cada um – acaba limitando o desenvolvimento das personagens. As atuações, no geral, são sólidas, Liniker e Thomas Aquino fazem um bom trabalho; no entanto, as cenas são roubadas por Karine Teles, que é uma das melhores atrizes brasileiras atualmente, e pelo pequeno Gustavo Coelho, que se mostra muito promissor. Outros personagens menores também são boas surpresas, como o casal Aristides e Décio, vividos por Gero Camilo e Paulo Miklos respectivamente. A conclusão é de que a série é um ótimo presente para a comunidade LGBTQ+ no mês do orgulho e tem tudo para ser um dos maiores sucessos do Brasil no streaming, mesmo com as suas limitações.
Nota 8!
Manhãs de Setembro (que em inglês leva o título de September Mornings) está disponível para streaming na Amazon Prime Video.
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