
Um filme dirigido e escrito pela cineasta francesa Céline Sciamma, Tomboy é um drama que acompanha uma criança de 10 anos que é não-conformante de gênero, ou seja, ela difere das normas de gênero que lhe foram atribuídas pela sociedade. Tomboy (que possui o mesmo título em português, inglês e no original em francês), narra os acontecimentos das férias de verão de Mickaël (interpretado de forma incrível por Zoé Héran). Chamado pelos pais de Laure e designada como menina, ao se mudar para um novo bairro, ele é identificado pelos novos colegas da sua idade como menino e decide se apresentar como Mickaël. Ele usa cabelos curtos, roupas largas e possui trejeitos que são considerados masculinos pelas pessoas ao seu redor, e seus comportamentos se encaixam no esteriótipo “tomboy”, palavra de origem inglesa para se referir à meninas que se expressam de forma mais masculinos. Porém, ao decidir se identificar como Mickaël e não mais como Laure, o jovem vai fazer com quem sua irmã, seus pais e seus amigos tenham diferentes reações ao descobrir sua atual identidade.
Tomboy é um excelente filme que mostra muito bem como gênero é algo simples, mas ao mesmo tempo muito complicado. É simples para as crianças, mas os adultos adoram complicar as coisas. Nesse caso, a minha interpretação é clara: Mickaël é um menino trans, e por isso me refiro a ele no masculino nessa crítica. Antes mesmo da história do filme começar, ele já tem comportamentos masculinos e ao decidir se apresentar como Mickaël para os colegas, confirma a forma como deseja ser chamado e visto pelos demais. Isso não muda no decorrer do filme, ele detesta roupas femininas e rejeita ser tratado como uma garota, em contraste à irmã Jeanne (vivida por Malonn Lévana), que aos 6 anos de idade demonstra se identificar como menina. Contudo, o filme tenta dar a entender que essa identidade não está confirmada, tanto pelo título “tomboy”, que é usado para meninas cisgênero, quanto por uma cena na conclusão do filme, que ao meu ver, é um pouco desnecessária (assim como grande parte do último ato do filme, que me parece escolher um caminho previsível e problemático). A própria diretora comentou em entrevistas que quis deixar o filme aberto a interpretações para que tanto homens trans quanto mulheres cis não-conformantes de gênero pudessem se ver representados na história. Seja qual for a sua interpretação, o filme é válido como um ótimo estudo de identidade e expressão de gênero na infância, mesmo com suas limitações. O drama também chama atenção pelas incríveis atuações infantis, principalmente de Zoé Héran no papel principal, mas também de Malonn Lévana, como sua irmã mas nova, numa relação que é o ponto alto da narrativa. Ele conta ainda com uma ótima edição e uma bela fotografia.
Nota 7!
No momento, Tomboy está disponível para streaming no Telecine.
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