
Filmes de terror são, na sua essência, filmes queer. Toda história assustadora pode ser traçada para a história de vida de pessoas LGBTQIA+ de uma forma ou de outra, seja um filme com vampiros, com fantasmas, com serial killers, com demônios, ou um mero terror psicológico, o mundo do terror, onde as pessoas abominam aquilo que desconhecem, é muitas vezes o mundo que gays, trans, lésbicas, bissexuais e pessoas não-binárias encaram no seu dia a dia. Mas porque estou falando isso? Porque esse universo é também o universo de Hellraiser (que em português ganha o subtítulo Renascido do Inferno), filme britânico escrito e dirigido pelo cineasta e escritor (gay) Clive Barker, que é também o autor do livro The Hellbound Heart, que serviu de base para o filme. Na história de Hellraiser, o imprevisível Frank (vivido pelo excelente Sean Chapman) está em busca da forma de prazer mais extrema e absoluta possível, e para isso adquire uma misteriosa caixa que, quando ativada, convoca seres extra-dimensionais. Para a surpresa de Frank, esses seres sadomasoquistas que não diferenciam prazer e dor vão levá-lo para o plano infernal onde habitam, e agora o homem vai precisar da ajuda de sua amante, Julia (interpretada pela fantástica Clare Higgins), se quiser ter alguma chance de fugir desse temido destino.
E o que essa história tem de tão queer, além do fato de ser saído da mente de um homem gay? Bom, quase tudo! A inspiração para os “cenobites”, esses icônicos seres de outro plano que aparecem para levar Frank ao inferno, está em bares e casas de praticantes de sadomasoquismo de Nova York – grande parte deles queer – que Clive Barker frequentou nos anos 70. Além disso, a própria temática do filme e a forma com a qual ele aborda a sexualidade das pessoas envolvidas é bastante a frente do seu tempo e destoa dos filmes de terror da época que tratam sexo como algo velado, como Halloween ou Friday the 13th. Hellraiser, inclusive, teve diversas cenas cortadas pelos produtores, que achavam que o filme estava passando dos limites. Ou seja, a obra, assim como a comunidade LGBTQIA+, é realmente transgressora em vários sentidos e o resultado é visível, mesmo com alguns problemas de enredo. Somando a isso o exagero típico dos anos 80 e efeitos práticos de revirar o estômago, é fácil perceber o motivo da franquia Hellraiser ter perdurado até hoje, com dez filmes ao todo.
Nota 7!
No momento, Hellraiser está disponível para streaming no Amazon Prime Video, Looke, Pluto TV e TNT Go, ou para aluguel no Google Play. Se você se interessou pelo filme e quer conhecer mais sobre ele, incluindo outras opiniões, abaixo você encontra o link para o Letterboxd, uma rede social de pessoas que comentam todas as obras do mundo do cinema. Além disso, você pode clicar em JustWatch, uma ferramenta que mostra a disponibilidade de filmes e séries em todas as plataformas de diversos países para conferir de forma atualizada onde assisti-los!
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